Second Life


Ana Helena Reis

Por esses dias, pensando um pouco a respeito da realidade virtual em que estamos vivendo, me veio à cabeça esse jogo de simulação em 3D lançado em 2003. A ideia era levar jogadores a uma nova vida focada em relações sociais, sem limites para a criatividade. No limiar entre jogo e rede social, o serviço ganhou adeptos no mundo inteiro, incluindo o Brasil, onde fez sucesso até 2007. Rapidamente caiu no esquecimento, conforme as redes sociais foram ganhando espaço ao oferecer novas alternativas para a socialização no ambiente virtual.

Veio a Pandemia, 2020 foi o ano do isolamento. As redes sociais explodiram como um caminho de abertura para o que se passava fora das quatro paredes, cada uma com adeptos de segmentos de idade às vezes diferentes, como é o caso do Tik Tok, Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp. Não importa em quais deles os brasileiros passaram a compartilhar seu dia a dia; o que conta é que a vida, nesse último um ano e meio, nunca foi tão virtual. Os idealizadores do jogo Second Life não poderiam imaginar o quanto o mundo virtual tomaria conta do mundo real, quando as pessoas se vissem confinadas.

Muitos dirão – isso é uma generalização, não foi assim para todos, pelo contrário; tem pessoas que não entraram nessa febre de redes sociais, de comunicação por mensagem de texto e voz, que continuaram se relacionando só pessoalmente, etc. Para esses “negacionistas”, vale lembrar que muitos podem até não ter entrado na onda, mas aqui me refiro aos 99% da população brasileira que participa de alguma rede social, incluindo o WhatsApp.

Ainda me espanto com a semelhança que a vida virtual, durante a Pandemia, tem ou teve com o espaço criado pelo jogo criado pela Linden Lab. Da mesma forma que no jogo, em que os participantes montavam seus avatares, nas redes sociais nós estamos nos transformado neles. Assumindo visuais, estilos de vida, comportamentos, muitos deles frutos somente da imaginação, passamos a interagir com as comunidades de que participamos virtualmente a partir dessa ficção de nós mesmos.

Me lembro de ter lido alguns estudos sobre o Second Life, ressaltando a necessidade que as pessoas tem de exercitar sua imaginação não somente através da contemplação da arte, em suas mais diversas manifestações, mas de ilusões internas. De criar um “segundo” mundo, uma realidade ilusória onde possam viver, dramatizar, e da qual possam se nutrir de uma certa dose de encantamentos mágicos sobre seu relacionamento com o mundo e com os outros.

Essa realidade ilusória estilhaça nossa identidade e somos nós mesmos que oferecemos a munição para isso nas redes sociais. Nos tornamos paparazzis de nós mesmos e nos alimentamos do retorno com que os amigos virtuais nos contemplam.

Assim como o jogo Second Life, o fenômeno das redes sociais certamente terá seu declínio e algo diferente tomará seu lugar. Mas qual será o saldo dessa imersão na realidade virtual para os relacionamentos no nosso mundo real, daqui para frente?

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