Moderna


Magda Souza

– O Graf Zeppelin LZ 127 sobrevoa Porto Alegre em 1934. Que notícia fantástica! O dirigível realizou uma rota alternativa e passou pela capital!

– Minha filha, isso aconteceu há mais de oitenta anos!

– Eu acho fantástico. Olha o formato dele, um cilindro arredondado, prateado, deslizando pelo céu. Muito mais bonito que qualquer avião. Privilegiadas foram as pessoas dessa época.

– E as naves, foguetes espaciais, cápsulas enviadas para o espaço? São mais modernos.

– Esses eram muito mais. Como uma ficção científica às avessas!

– Nem dá para comparar a tecnologia atual com a da década de trinta.

– Por isso mesmo, naquela época eles construíram, olha: ”uma carcaça de alumínio, revestida por uma tela recoberta por uma lona de algodão pintada com tinta prata. Dentro dela existiam sessenta pequenos balões inflados com gás hidrogênio e mais cinco motores”. E colocaram isso no ar, fizeram uma volta ao redor do mundo!

– Já se colocou transporte muito mais precário no ar. Ouviste falar no quatorze bis?

– Lógico, mãe, mas esses deveriam lembrar naves espaciais.

– Minha filha, gosto muito deste teu entusiasmo com inventos.

Amelie nem ouviu o comentário de sua mãe, ficou se imaginando passageira de um dirigível, no seu primeiro voo de Frankfurt para Nova York em 1928. Estava vestindo saia e casacos de lã e usava um pequeno chapéu enterrado até os olhos, cobrindo os cabelos curtos e sapatos de saltos baixos. Estava em dúvida se estava carregando roupa suficiente, pretendia ficar alguns meses nos Estados Unidos. Comprara a passagem com bastante antecedência para ela e a mãe, porque sabia que estavam participando de um evento que entraria para a história. Imaginava que as próximas formas de transporte aéreo seriam um aperfeiçoamento daquela. Mesmo o pai, menos entusiasta com inovações, gostaria de voar num daqueles se não tivesse morrido na guerra.

Viviam numa época de maior liberdade para as mulheres, que haviam deixado de lado os espartilhos, podiam mostrar partes do corpo como pernas, colo e até usar batom vermelho. Os vestidos mais curtos, leves e elegantes, geralmente em seda, deixavam braços e pernas à mostra, o que facilitava os movimentos exigidos pela dança. As bandas de jazz estavam em alta e o clima era de prosperidade e animação. Lia a matéria da revista de moda feminina, sentada na sala de estar, enquanto aguardava a mãe se aprontar para o jantar – Vivemos um tempo espetacular. Muitas descobertas e invenções ainda serão feitas – pensou.

– Estava pensando que vivemos numa época espetacular.

– Eu diria que um tanto escandalosa.

– Escandalosa como, mãe? Estou falando de tecnologia!

– Eu falo dos novos costumes, das mulheres com esses vestidos curtos, com tudo à mostra, dançando essa música frenética, pintadas em excesso.

– Agora é assim. Houve um tempo em que se achava um absurdo o voto das mulheres e tem países que ainda não permitem o voto feminino.

– O que tem que ver voto com moda?

– Não é moda, é liberdade, mãe.

– Imagina daqui a noventa anos, quantas invenções, mudanças de comportamento, naves sobrevoando o céu, indo para outros planetas, mulheres presidentes – disse Amelie.

– Noventa anos beira um século, é muito tempo.

– Estamos aqui para impulsionar esse futuro fantástico!

– Minha filha, não gosto deste teu lado político. Prefiro o entusiasmo pelos inventos.

Amelie nem ouviu o comentário da mãe. Imaginou-se no século XXI lendo as notícias dos jornais.

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Magda Souza

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