Namoradeira


Ana Helena Reis

Reclinada na namoradeira, Lady Ane esperava pela visita do pretendente. Tinha escolhido a saia de cetim de listas e a blusa preta de renda com camafeu, pois hoje era um dia especial. Se certificou de que tinha apertado bem o corselete para que a silhueta ficasse mais cinturada, ressaltando o colo e o decote discreto. Pela terceira vez pegou seu espelhinho de bolso para conferir o pó de arroz e reforçou, com o dedo, os cachos que escapavam displicentemente do coque, para dar um ar mais descontraído.

O relógio de parede tocou três badaladas, sinal de que em instantes ele chegaria, como manda a etiqueta. Era 12 de junho, e estavam em plena “Temporada de casamentos”. Em meio à sonolência da espera, pensava em como driblar o controle dos pais para poder se aproximar daquele com quem já tinha trocado olhares e suspiros. Para isso, contava com a abençoava namoradeira tête-a-tête. Ela iria permitir que ficassem de frente um para o outro e, assim, ao primeiro descuido dos vigilantes poderiam se tocar e até quem sabe, arriscar um beijo.

Sentiu seu beijo e, num salto, abriu os olhos.
— Ane querida, está dorminhocando aí na poltrona? Desculpe, me atrasei um pouco para a nossa comemoração de hoje.
Já com ela nos braços, sussurrou:
— O que era aquele sorrisinho nos seus lábios — estava sonhando comigo?

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