On the road


Aline Peterson

De repente foi como se eu estivesse levitando, flutuando de uma forma peculiar. Mesmo inseparável do ambiente, foi como se estivesse bem acima dele, no céu, entre as nuvens, que passavam por mim, mesmo que eu pudesse mais senti-las do que vê-las. Precisei me segurar com as duas mãos no sofá pois tive a impressão de que fosse cair. As cores eram mais fortes e vibravam. Os sons eram mais claros e faziam mais sentido pois combinavam-se entre si de uma forma ainda mais extraordinária. As texturas convidavam ao toque cuidadoso e minuciosamente eu tocava tudo o que estava em minha volta, sentindo entre meus dedos cada linha, relevo, pelo ou cicatriz. Histórias e imagens se misturavam em uma nuvem de pensamentos incongruentes, que passavam rápido na minha mente como se fossem árvores em uma rodovia quando se está dirigindo muito rápido, mas em dado momento elas se ordenavam e se encontravam em algum lugar da estrada em que passavam a fazer todo o sentido. Se perante a morte o medo de se estar morto nos próximos instantes faz com que vejamos imagens de uma vida inteira como se fosse em um filme, naquele momento e por mais algum período que eu nunca soube mensurar, pois além do espaço, o tempo também era caótico e indecifrável, era como se tudo tivesse resposta e, principalmente, como se eu tivesse formulado todas as minhas perguntas. A vida era simples. A simplicidade dela era finalmente algo valioso. O dinheiro, as relações conturbadas, as frustrações do dia a dia, nada mais era importante. Muitas vezes nos damos conta em determinado momento da vida, de que todo o esforço foi em vão, que todas as horas trabalhadas foram perdidas se te tiraram do lazer, que palavras importantes foram omitidas , imagens se perderam, boas lembranças ou foram esquecidas ou foram lembradas sem seus detalhes essenciais. Ali, de braços abertos sentindo o sofá me abraçando, sentia que nem mesmo todos aqueles questionamentos eram necessários, qualquer um não seria. Naquele momento, uns instantes que poderiam, naquele espaço-tempo, ter a duração de milhares de horas ou milênios, a vida era resumida a um ponto indeterminado no universo, mas incorruptível demais para ser questionado. Ela era o que era: uma infinidade de ganhos, perdas, prazeres, arrependimentos, vida e morte - em suas incontáveis maneiras de uma organização infinita – que se resumia ao único propósito de ser vivida.

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