É assim que acaba


Cris Net

Sempre gostei de ler e contar para os outros a minha opinião sobre os livros. Tanto que meu primeiro contato com o mundo empreendedor literário foi na terceira série do ensino fundamental, quando pedi um espaço para minha professora, durante a aula, para compartilhar uma leitura com meus colegas, de tanto que eu tinha gostado do livro. Já adulta, um dos primeiros projetos de escrita profissional foi o blog Livroterapia, onde indicava livros para os problemas que nos afligiam no mundo íntimo e pessoal. Na época deste blog, não tinha filhos e a minha ideia de problema íntimo e pessoal era bem mais limitada.

Ano passado resolvi saí da zona de conforto dos autores conhecidos e me aventurei na leitura de uma best seller do New York Times, a Colleen Hoover. Comecei escolhendo pela capa e o primeiro livro que li foi o É assim que acaba. Concluí a leitura em uma velocidade recorde para uma mãe que trabalha fora e toca a casa sozinha. Em duas semanas. As mães entenderão que esse ritmo de leitura é realmente uma marca considerável, mas não é esse o norte que quero dar a esse texto, mas sim, a problemática abordada por Colleen em uma de suas obras-primas.

O livro se propõe a ser um romance típico, com conflito dramático e final feliz. Já na sinopse, traz indicativos de que será forte, tratando de temas importantes como infância difícil e relacionamentos tóxicos (nome moderno para um problema antigo). No entanto, a autora surpreende ao abordar a força da protagonista para melhorar a própria vida e a da sua descendência.

É assim que acaba tem história de amor, e mais do que isso, uma importante lição de vida. Sem dar muito spoiler, senão os curiosos irão me crucificar, adianto que o final é feliz sim, mas não como se espera. Não haverá a clássica frase “Foram felizes para sempre”. Terá sim, uma grande quebra de paradigma. A protagonista, no início meio chata e inexpressiva como a Anastacia, de 50 Tons de Cinza, acaba virando o jogo e encontrando força para romper com o ciclo de exploração e violência que as mulheres da família sofriam há bastante tempo.

O livro foi escrito em 2016, mas ganhou maior visibilidade desde 2022, quando passou a figurar entre os mais vendidos da Amazon.com e até hoje está por lá. O sucesso de vendas não se justifica só porque a história é boa, mas principalmente porque ela conversa com a realidade de muitas mulheres, não importa a localização geográfica ou a classe social. Ela explora a temática do machismo na sua pior face, se é que existe alguma face que não seja ruim, e expõe uma grande ferida da sociedade em aceitar atitudes de abuso como normal e, ainda pior, símbolo de status. Por isso o livro é top 10, porque pelo menos enquanto estamos lendo, nos sentimos empoderadas, representadas, acolhidas e compreendidas na luta diária por respeito e segurança – física e emocional.

Ao abraçarmos Lily, a protagonista, em sua dor, estamos colocando curativos nas nossas próprias feridas. Agora, para ser uma revolução de fato, ao lermos a última página, precisamos tirar os bandaids com os quais nos cobrimos até agora e interromper nossos próprios ciclos de dor e sofrimento. O dia em que isso acontecer em grande escala, realmente Colleen terá feito história e mudado o rumo da sociedade.

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Cris Netto

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