Karen Minatto
Fiquei dias pensando sobre o que escrever nessa semana e não encontrei tema mais libertador do que compreender quem realmente somos, em essência. Como a ideia do Projeto Crônicas da Vida é trazer à tona questões existenciais, nada mais justo do que abordar esse assunto.
Como boa escorpiana e, em virtude da minha mente indagadora e analítica, esse tipo de abordagem me encanta e me fascina muito.
Talvez esse tema não agrade a todos, mas deixo um desafio no ar: duvido que depois de ler o texto, um pontinho de interrogação não vá surgir aí, na tua cabeça. Assim como surgiu na minha quando comecei a estudar e a me aprofundar na questão.
Comecemos pelo básico. E se eu te disser que você não é quem você pensa que é? Que o jeito como nos apresentamos na vida nada mais é do que a nossa persona, um dos componentes do nosso ego? Pois é. Saiba que é exatamente isso.
Quando eu digo o meu nome, a minha profissão, o que eu gosto, dentre outras coisas, estou apresentando a minha persona e não a Karen em si.
Agora é o momento em que vocês devem estar pensando que eu pirei, que devo ter bugado, ou algo do tipo. Espera aí. Lê mais um pouquinho, me dá mais uma chance que logo, logo vai clarear.
O ego, nada mais é do que o centro da personalidade consciente, ou seja, o núcleo da personalidade de uma pessoa.
Desde os primórdios da existência o ser humano tem a necessidade de pertencimento; a pessoa que não fizesse parte de algum grupo acabava, com o tempo, morrendo. Desta forma, a persona nada mais é do que a maneira como nos apresentamos aos outros durante a nossa vida, de modo que possamos ser reconhecidos. É através dela que nos identificamos com os demais e, assim, acabamos nos inserindo em grupos sociais.
Quando eu me refiro a saber quem se é eu vou além da persona. Estou falando da essência, do que está por dentro. Sim, porque é a nossa essência, o nosso verdadeiro EU que define quem realmente somos.
Para conhecer a nós mesmos precisamos ir além de ideias e de crenças. O profundo autoconhecimento não tem nada a ver com ideias e crenças que temos enraizadas em nossa mente. Conhecer a si mesmo tem a ver em estarmos enraizados no nosso Ser e não na nossa mente.
O que somos é muito diferente do que pensamos que somos. O sentido do que pensamos que somos é o que vai determinar o que entendemos como necessário e importante para nós em nossa vida.
O fato é que nada do que a pessoa possa vir a saber a seu respeito é ela, nada que venha conhecer sobre si é ela. Não é isso que define o Ser, a sua essência.
Quando fazemos terapia ou análise, por exemplo, descobrimos inúmeras coisas sobre nós mesmos, o que é diferente de conhecer a si mesmo. O que descobrimos na terapia é sobre a pessoa, e diz respeito ao conteúdo que a mente dessa pessoa condiciona sobre o seu passado. Ele não é a pessoa em si. Temos aqui conteúdo e não essência. E o conteúdo está intrinsecamente ligado ao ego. Ir além do ego é sair do conteúdo e, então, se chegar à essência.
As pessoas, em sua grande maioria se definem pelo conteúdo de suas vidas, esquecendo-se de olhar para dentro. Vivem no automático, na correria diária. Se esquecem da essência e de quem verdadeiramente são.
Qualquer coisa que sentimos, percebemos, experimentamos, fazemos, está relacionado ao conteúdo. E é o conteúdo o que absorve a nossa atenção e com o qual nos identificamos.
Quando falamos da nossa vida, estamos no referindo a vida que temos. Quando eu falo da minha idade, dos meus gostos, do meu trabalho, estou me referindo ao conteúdo. O conteúdo faz parte de quem somos, mas não é o que somos.
Provavelmente, se você chegou até aqui deve estar se perguntado: caramba, se tudo isso é conteúdo e não é o que eu sou, então o que há além do conteúdo, onde encontro essa minha essência?
A nossa essência está no espaço interior da consciência, ou seja, naquilo que permite que o conteúdo exista. É quando silenciamos e olhamos para dentro que conseguimos nos conectar com o nosso verdadeiro EU. Com quem realmente somos.
No momento em que essa conexão acontece o ego é silenciado e só existe a voz do Ser. É nessa circunstância em que tomamos a verdadeira consciência do estado presente. É quando nós conseguimos ser, naquele exato momento. Justamente por isso é que todas as respostas estão dentro da gente e não fora.
Quando nos tornamos conscientes despertamos, e conseguimos avaliar e reconhecer a nossas atitudes, posturas e reações advindas do ego. O pensamento egoico, ou seja, aquele pensamento direcionado pelo nosso ego gera sentimentos e, esses sentimentos, geram ações e reações. O Ego traz afirmações falsas sobre quem somos, sabota, busca incansavelmente cada vez mais, projeta no futuro e não no agora.
Quando controlados pelo ego, agimos de acordo com ele e com nossas feridas. No momento em que conseguimos reconhecê-lo evitamos atitudes desproporcionais, julgamentos, vitimismo. Entendemos que não há certo e errado; não há bandido e mocinho; não há vítima e algoz. Há apenas o presente como ele é.
Só conseguimos entender melhor o ego quando nos permitimos despertar através do olhar para dentro, do estado de consciência e do encontro com a nossa essência, com o nosso EU. E o despertar só ocorre quando você descobre a inconsciência em si próprio, mantendo-se no presente.
As pessoas vivem a maior parte de suas vidas de forma inconsciente, ou seja, sob o domínio do ego, e enquanto não despertarem para a sua essência e para quem realmente são continuarão em estado de ansiedade, de mágoas, de culpas, de frustração, de incapacidade, de busca por uma perfeição que não existe, de autossabotagem, de desvalor, de insegurança, e por aí vai.
O ego não é você. Ele finge que é você. Todo o ser humano possui ego, faz parte da nossa existência, contudo, o que não podemos fazer é deixarmos nos controlar pelo ego, o que ocorre na grande maioria das vezes.
Ninguém, por exemplo, se torna bom tentando ser bom. Para isso é necessário encontrar a bondade que já existe dentro de si e permitir que essa bondade sobressaia. E é isso que o despertar possibilita, essa consciência de quem nós somos, essa conexão com a nossa essência e a exteriorização dessa nossa essência no mundo.
O fato é que se as estruturas da nossa mente se mantiverem imutáveis, sempre estaremos recriando as mesmas situações, os mesmos males e os mesmos distúrbios. Se não nos atentarmos para a ação do ego permaneceremos seus prisioneiros e repetiremos padrões de comportamentos que não coincidem com a nossa verdadeira essência.
Caso seja de interesse geral podemos aprofundar o tema em outro texto.
Por hora, deixo apenas as seguintes perguntas: você verdadeiramente se conhece ou é movido pelo ego? Quem realmente é você?
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