Gabriela Checchinato Facchini
O QUE FAZER SE NÃO SABIA
Lá estava ela, mais uma vez entortando o passo para não pisar em linhas, perdida em devaneios repetidos e incansáveis, mas o que fazer se não sabia. O sol apontando no céu, era hora de apresar-se, põe pano, tira pano, tecido que incomoda o que sufoca por dentro. Ó céus que dança insuportável era aquela, mas o que fazer se não sabia.
Panos a postos, já podia seguir rumo, mas antes com grande pesar confere tudo para não causar mal: acende, apaga, fecha, abre, toca, desvia, tranca e destranca; que dia tirano que ainda mal começara. Fronte fechada, respiração trancada, ansiosamente tentava guardar os ditos importantes em seu caderninho; traçar as palavras já estava tão difícil quanto manter o raciocínio, mas o que fazer se não sabia.
Chega, não senta, mas como sentar em uma cadeira de espinhos? Olhos a guardavam, julgadores e donos da verdade; a vergonha a tomava, mas o que fazer se não sabia. Gastando a si mesma, gritava por ajuda com o olhar silencioso, “será que enlouquecera?” “Que se sujara no meio do caminho?” ou pior, “Que um mal a havia tomado?
De tanto maquinar, tornou-se parte lata e parte gente; para poupar o que restava, guardou no mais profundo a sete chaves, tão fundo que perdeu. Acostumou-se a poupar a vida, tanto que não viveu, esqueceu dos gostos, das fábulas e do riso, mas o que fazer se não sabia.
Já com poucos para contar, por fora inteira (apesar das expressões cansadas), mas ninguém imaginava o quão esmigalhado era o que estavam vendo, tanto que duvidavam da pobre, que quase sucumbiu.
Passaram-se os anos, os meses, e os dias, mesmo com o fardo não deixou de sonhar. Sonhava que era uma borboleta amarela, com assas espertas que voavam livres. A tola menina sonhava acordada, até que um dia tropeçou e caiu; já era hora de mudar o seu rumo, mas como fazer se de nada sabia?
De nada sabia, isso já não era verdade, sabia que queria voar. Lembrou-se que menina já não era, agora, mulher sonhadora! Gritou e gritou e desta vez encontrou os cacos de si que tinha perdido; formou um espelho de cacos colados que refletiu a luz do dia e derreteu a lata.
Inteira por dentro, matou a saudade, com abraço apertado em seu corpo jovem. Bem com si mesma, sem ilusões ou culpa, compreendeu que nada podia fazer quando de nada sabia, mas sabendo agora sua missão seria: saber aquilo que antes não sabia.
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