Gostoso Remédio


Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

No cineminha lá no bairro paulistano da Vila Ré estava passando “Christine. O Carro Assassino”. Combinei de ir sozinho e encontrar os amigos lá dentro, mas eu saberia depois que não seria assim. Para comer só tinha a pipoca no carrinho na frente, além da pastelaria do chinês e do boteco atravessando a rua Itinguçu, de onde vinha o cheiro de coxinha recém-frita. Na entrada do Cine Saturno o lanterninha checava todos se iriam entrar com comida e deixava entrar só se jogasse no lixo.
Comprei ingresso, dei o tíquete para outro funcionário do cinema cortar o picote e não achei ninguém conhecido lá dentro. Na abertura aparecia que era baseado no livro do Stephen King e era dirigido por John Carpenter. A trama era de jovens que sofriam bullying encontraram um lindo rabo de peixe vermelho aos pedaços, compraram de um velho esquisito e eles e a caranga se transformavam em outros. Havia o sobrenatural e muito rock ‘n’ roll.
Na parte em que os personagens não paravam de chorar, fui ao banheiro. Depois saí e ao perceber que não estava sendo seguido, abri a porta de saída e passei na farmácia e no bar. Comprei o salgado que ainda estava quente e guardei no saquinho de papel junto com o medicamento e enfiei no bolso da calça.
Na Itinguçu um carro saiu cantando o pneu, levantei a cabeça e vi um vulto atrás de mim. Entrei correndo no cinema e peguei a Christine em chamas perseguindo os personagens. Fui até a poltrona. Abaixei e abri o saquinho de papel e veio uma luz no meu rosto – seriam os faróis da Christine?
- Que remédio tem um cheiro tão bom? – era lanterna apontada para a coxinha.
- Ééé para minha mãe – fechei o saquinho.
- Sei. É para sua mãe barriga. Licença, também vou precisar deste remédio agora – saiu sem confiscar meu lanche.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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