Nos braços de Iemanjá


Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Catarinense de Joinville, Sérgio, 61 anos, descendente de alemães católicos conservadores, era amante de música rock, pop e sertaneja e de Harley-Davidson. Vivia tomando remédios contra pressão alta e sofria de apneia do sono. E temia ondas fortes.
Na praia de Barra Velha conheceu a jovem Arlete, de Jaraguá do Sul, vindo a casar e ter as filhas Morgana, Jordana e Bruna. Em razão do serviço com produtos químicos e de estudos na Universidade Caxias do Sul, a família mudou-se para essa cidade gaúcha.
Com o Grupo da Sétima Cavalaria, a bordo de sua moto Harley preta, percorria as estradas do Estado, muitas vezes na companhia de Arlete. Era o lazer preferido.
Pelas mãos da filha Jordana, foi iniciado na Umbanda, em que recebeu e deu passes a outras pessoas. Especializou-se em alecrim, “ora pro nobis” e outras ervas medicinais, passando a ensinar aos iniciantes. Vinha à praia todo ano para entregar oferendas a Iemanjá. Generosa, a Orixá protegia a ele e a família dos perigos no trabalho, em casa e nas ruas e estradas.
No sábado, 1° de fevereiro de 2020, transcreveu, entre outras postagens no Facebook, o “Ponto cantado de Iemanjá...” e a bela canção “Conto de Areia”, da saudosa Clara Nunes: “É água no mar, é maré cheia ô Mareia ô, mareia É água no mar...”
Passava das sete horas e meia da noite, na Praia de Fora, naquele trecho conhecido como Praia da Guarita (por ser próxima à guarita 12), em Torres, Rio Grande do Sul. Muitas pessoas vestiam branco. Os guarda-vidas já tinham ido embora pelo término do expediente. Sérgio, todo de branco, levava oferendas à Rainha do Mar em seus braços nas águas calmas.
Com água batendo no pescoço, Sérgio largou as flores e ervas. Adormeceu - o devoto caiu nos braços de Iemanjá, que o recebeu na véspera de seu dia. Amigos e familiares constataram o desaparecimento e gritaram por socorro, uns entraram no mar, sem êxito. Chamaram o resgate, mas os bombeiros chegaram tarde demais.
Por volta da meia-noite a Mãe D´Água devolveu o corpo à beira da mesma praia.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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