Os doces aromas de Cunha


Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

No meio da Serra da Bocaina, a 52,5 km de Guaratinguetá (cidade natal de Frei Galvão e sede da acolhedora Faculdade de Engenharia da Unesp) e a 92 km da pujante Taubaté, Cunha é guarda de ricas memórias olfativas. Pode ser em um passeio de um dia (mal dá para o cheiro) ou de alguns dias.
A caminho de Parati, sede anual da maravilhosa FLIP em julho, estão quilômetros de trilhas, com o cheiro de verde da Mata Atlântica e da terra. No Parque Estadual da Serra do Mar elas levam ao Rio Paraibuna e cachoeiras. Já bem na divisão do Estado de São Paulo com o Rio de Janeiro, trazem os visitantes como eu a uma cervejaria (pude provar as deliciosas cervejas artesanais, salsichas e linguiças, todas pagas em dinheiro ou cheque – porque não há sinal de celular ou wifi). Também encaminham à Pedra da Macela, mirante do nascer e pôr do sol (se tiverem sorte, os aventureiros que suportaram as pedras e o mato na subida íngreme, conseguem ver além do maravilhoso dégradé solar sobre as nuvens, todo a cidade de Paraty e quiçá a Ilha Grande - infelizmente só pude ver o lindo Sol).
As imediações da cidade, perto da Igreja de São João da Boa Vista, são tomadas pelas oliveiras e pelos campos roxos e de delicioso aroma. Assim como a região francesa da Provença, a lavanda domina as encostas de locais turísticos. Aprendi um pouco como são feitos os produtos (óleos, sabonetes, perfumes, entre outros).
São acolhedores os inúmeros locais (restaurantes, cafés e bistrôs) da cidade que atraem os visitantes com o cheiro de comida caseira e dos pães, pães de queijo e deliciosos quejandos.
No Centro de Cunha, estão o acolhedor morador do Vale do Paraíba, o Museu Municipal Francisco Veloso (com as memórias da cidade e o precioso acervo da Revolução Constitucionalista de 1932), o Mercado Municipal (com a inscrição do ano de sua fundação - MCMXIII), a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e o conservado casario. Entre eles, os ateliês de cerâmica, em especial japonesa, expõe bela e refinada arte. Assim como o protagonista Renzo d’“Os Amantes”, de Alessandro Manzoni, o aroma de pão quente saindo do forno atraiu-me. No interior, com a visita monitorada do anfitrião, fui levado diante de interessante forno em forma de escadaria, chamado noborigama (literalmente da língua japonesa, “caldeirão que sobe”), que é alimentado por lenha e as peças de cerâmica são cozidas dentro das câmaras geminadas com as aberturas fechadas com tijolos. Em esclarecimentos, aprendi que o noborigama não é um forno a lenha de pizzaria (por ser muito maior e mais quente) nem se confunde com o tatará, que é grande forno retangular para a forja de espadas samurai (como o do Mestre Tomizo Ishida, em Mairiporã). A transformação da terra em Beleza é notável, como bem lembra o poeta romano Ovídio, em “Metamorfoses”, que narra a estória do rei de Chipre Pigmaleão que, também por ser escultor, conclui a estátua da mulher perfeita, Galatéia e pela qual se apaixona e, após a comoção e o encanto da deusa Afrodite, a estátua é transformada em mulher, vindo a casar-se com o criador e gerar a filha Metarme e o filho Pafos. Voltando ao encantador aroma, as recém-saídas do noborigama são lindas peças de arte com a delicadeza japonesa.
No Vale do Paraíba, em meio à Natureza e à cidade de Cunha, além do Belo, também se ressentem agradáveis odores. Em ocasião auspiciosa, conheci pessoas, pontos turísticos, a deliciosa comida e a interessante cerâmica local.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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