Até que as ruínas se juntem


Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Floriana, a Flor, é levada em cima de mim até o quarto em casa no Bom Parto, Maceió. O teto desabando, na parede, além das rachaduras, cópia do quadro “As duas Fridas” e no chão colchão com lençol e travesseiro.
Do vizinho bairro Pinheiro, o amigo Panambi pega a moça no colo, beija na boca e a deixa deitada no colchão e a despe devagar. Beija a nuca, as aréolas, o umbigo e a florzinha – a pele de Flor fica toda rosada e ela geme. Falando devagar e com pausas, o rapaz fala de água, terra, ar e fogo, que o corpo inteiro frio começa a esquentar cada vez mais. Deitada com as pernas dobradas, o ar entra e sai aos poucos da boca com som, a mandíbula solta-se, a respiração de bebê, os músculos relaxam e a energia percorre os chacras, prende a respiração. O colchão balança. Vai num crescendo até que Flor geme forte, dá um tranco para cima. A borboleta pousa na flor, abre e insere a tromba atrás de néctar e chacoalha toda a flor e recolhe o membro. Ao invés de sair voando, Panambi fica deitado junto a Flor e volta a acariciar e beijá-la. Dormem abraçados.
Dezenas de metros abaixo das minhas rodas, das minas de sal da Braskem vêm os tremores de terra que me chacoalha e todas as casas e prédios deste bairro. Por acordo, a empresa vai indenizar todos, inclusive Flor e Panambi. Eles vão morar juntos em apartamento na Garça Torta, perto dos trabalhos dos dois, e onde, consertada nos pneus rasgados, posso passar sobre calçadas menos irregulares.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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