A memória do TRE paulista passa pela Rua Major Diogo


José D'Amico Bauab e Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

“Domingo nóis fumo num samba no Bexiga / Na Rua Major, na casa do Nicola / À mezzanotte o’clock / Saiu uma baita de uma briga / Era só pizza que avuava / Junto com as brajola”. Bastaria a letra de “Um Samba no Bexiga”, uma das mais celebradas composições de Adoniran Barbosa, para eternizar a Rua Major Diogo, via pública situada no coração do bairro da Bela Vista, o Bexiga, e assim nominada em homenagem ao major Diogo Antônio de Barros, combatente na Guerra do Paraguai, fundador da primeira fábrica de tecidos de algodão na cidade de São Paulo e parente consanguíneo de Francisca Miquelina, que, aliás, dá nome à rua onde está sediado o TRE paulista.
Contudo, a Rua Major Diogo, na qual estão instaladas as unidades de gestão documental e de memória da Corte desde 2009, é a própria síntese da riqueza histórica do bairro. Nela, por exemplo, está o casarão que pertenceu a Sebastiana de Mello Freire (1887 – 1961), mais conhecida como Dona Yayá, imóvel que foi destinado à Universidade de São Paulo em 1968, sendo, desde 2004, o Centro de Preservação Cultural daquela instituição. Mulher pioneira em seu tempo na arte de fotografar e habilitada como a primeira representante feminina para dirigir veículos na cidade de São Paulo, Yayá, solteira e com pais e irmão mais velho já falecidos, foi acometida de transtorno psiquiátrico permanente. Sua história entrelaça-se, de certa forma, com a do TRE paulista por dois fatos: o palacete onde ela residira anteriormente, na Rua Sete de Abril, foi a sede da Corte Eleitoral entre 1947 e 1952; e a família Grant, que legou dois importantes servidores para o Tribunal (Alfredo e Brasilina), atuou como cuidadora de Dona Yayá durante muitos anos.
Na Rua Major Diogo acentuou-se a vocação do bairro do Bexiga como a “Broadway” paulistana, com o Teatro Brasileiro de Comédia – TBC (em cujo escritório administrativo, também sede Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o comediante Mazzaropi, trazido pelo roteirista Abílio Pereira de Almeida, assinou seu primeiro contrato com aquela empresa); e os extintos Teatro Major Diogo e Teatro Jofre Soares (nesse último, aliás, foi velado, em 1996, o corpo do grande ator que lhe deu nome).
A Major Diogo abarcou o comitê eleitoral do Partido da Frente Liberal (PFL), onde foi lançada, em 1986, a candidatura do empresário Antônio Ermírio de Moraes ao governo do Estado de São Paulo, e também o “Palácio das Princesas”, antiga pensão para travestis que se tornou, nos anos 1980, sob os auspícios de sua mantenedora, Brenda Lee, a primeira casa de apoio para pessoas com HIV/ AIDS do Brasil.
E como não falar do lendário Nick Bar, ao lado do TBC? Por lá passaram Edith Piaf, Vittorio Gassman, Sammy Davis Junior e Nat King Cole; Guilherme de Almeida, Jorge Amado, Di Cavalcanti e Inezita Barroso; Ulysses Guimarães, Jânio Quadros e Adhemar de Barros. O casal de atores Nydia Licia e Sérgio Cardoso, que morava num prédio na calçada oposta ao bar, fez a festa de casamento no seu salão.
Com tantas marcas históricas, a Rua Major Diogo também será lembrada, doravante, por ter abrigado, no seu número 105, a memória genética da Justiça Eleitoral paulista.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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