Rebobinando


Luiz Alexandre Kikuchi Negrão

Uma fita cassete Betamax peguei no porão de casa. Tinha tanto cacareco interessante ali e não perdia por esperar. Foi uma das piores ideias.
Para começar, era raro. Em casa não tinha videocassete para esse padrão – a maioria era VHS como havia no porão. Como foi parar ali? Fui à caça de aparelho com esse padrão, não tinha nem na rua Santa Ifigênia, em São Paulo. Lá havia a loja do Juarez que me propôs:
- Tenho videocassete da Sony funcionando. É filho único. Posso ver se dá para recuperar, rebobinar e transferir a mídia para pendrive. – pediu uma quantia razoável.
- Negócio fechado. – paguei à vista em dinheiro, depois de chorar um desconto.
Dois dias depois Juarez me ligou para ir lá. Fui para ver até se me mostrava de primeira mão o que estava gravado. Rindo, ele me deu o pendrive e levou ao fundo da loja onde estava a televisão com o videocassete passando a fita que ele tinha recuperado:
- Tá meio sem cor porque o padrão japonês (NTSC) quando liga na televisão brasileira, que é PAL-M, deixa assim a imagem. Esse cara com a peruca loira cantando desafinado “Abre a roda”, da Sarajane, me parece alguém – e ficou me encarando.
- Esse é o meu irmão gêmeo – tentei disfarçar e fiquei até acabar a gravação.
Tem coisas que não merecem nem ficar estragando no porão.

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Luiz Negrão

E-mail: luizalexandren@gmail.com

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