Karen Minatto
Vida de casal é complicada. Se não é a rotina e os filhos, é o tempo de casamento. Depois de vinte anos juntos fica difícil surpreender, causar frisson, reacender a relação. Pelo menos era o que pensava Carlos, até aquela noite.
Em razão do chimarrão que tinha por hábito tomar, levantava-se de duas a três vezes por noite para ir ao banheiro o que resultava, de vez em quando, na ida à cozinha para assaltar a geladeira.
Naquela noite, depois da ida clássica ao banheiro, bateu aquela fome e lá estava ele, na frente da geladeira, pronto para montar um sanduiche caprichado.
Enquanto pegava o que precisava sentiu uma leve sensação de que não estava sozinho. Virou-se, e acabou tomando um susto ao ver sua mulher sentada na mesa da cozinha em um ronco ininterrupto.
Olhou para aquela cena deprimente, e se deu conta de que a esposa começou a falar dormindo.
Chegando mais perto ouviu-a dizer que ia viajar o que despertou a sua curiosidade. Logo pensou: “será que se eu perguntar eu obtenho resposta?
- Viajar para onde Patrícia?
- Para o Rio de Janeiro.
Com os olhos brilhando e um sorriso no rosto, meio que curtindo a brincadeira, continuou.
- Rio de Janeiro? Mas por que você quer ir para o Rio de Janeiro?
- Estou cansada, disse ela. - Exausta para ser bem franca.
Diante do que foi dito Carlos preocupou-se com a mulher e teve pena. Mas a preocupação durou pouco, até ela balbuciar as próximas palavras.
- Eu não aguento mais você! Preciso ir ao Rio de Janeiro para encontrar o Raul.
Naquele momento Carlos não sabia se gritava, se sacudia a mulher ou se esperneava.
Respirou fundo, se aproximou da esposa e indagou com a voz calma e serena:
- Quem é Raul?
- Meu advogado.
- Quero me livrar de você. - Não aguento mais a sua bagunça, sua toalhas molhadas em cima da cama, a falta de apreço.
Ouvindo aquilo ele rebateu. Aumentou a voz e a briga começou.
Ele acordado daqui, ela sonâmbula de lá. Os dois discutindo no meio da madrugada.
No dia seguinte, Patrícia foi surpreendida com uma bandeja de café da manhã. A mulher olhou para a bandeja desconfiada. Seu pensamento foi interrompido pelo marido.
Ao virar o rosto na direção de sua voz seus olhos se arregalaram ao vê-lo de pé, peladão. O homem jogou-se na cama, retirou a bandeja e pegou a esposa de jeito, mesmo sem jeito.
Depois do ocorrido, a mulher se jogou de boca na bandeja. O café estava frio, mas o suco de laranja e os demais alimentos foram consumidos rapidamente.
Enquanto comia, pensou: “O que foi isso? Não sei! Só espero que se repita novamente”.
Mai tarde, Patrícia pegou o telefone e fez uma ligação. Precisava falar com seu melhor amigo e contar o que havia acontecido.
Assim que a ligação foi completada ouviu a voz do outro lado da linha:
- Raul falando.
- Oi amigo, sou eu. Preciso te contar uma coisa que aconteceu, mas antes deixa eu te falar, sonhei contigo essa noite e adivinha, no meu sonho, tu era advogado.
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