Karen Minatto
Somos humanos. Buscamos o prazer e fugimos da dor. O instinto de sobrevivência nos protege, mas também nos aprisiona.
Na busca incessante pelo prazer esquecemos do imprescindível: nos enxergar.
Se olhar no espelho incomoda. Ver tudo que o que se possui de belo e, ao mesmo tempo, o emaranhado de sombra que nos acompanha causa desconforto.
Crescer dói. Enxergar nossas fraquezas dói. Visualizar nossas falhas dói. Ver o que temos de pior dói.
E na fuga da dor pela busca do prazer fugimos de nos conhecer.
Adiamos o abraço, tão necessário, ao nosso lado sombra, que, apesar de feio e distorcido, faz parte de cada um de nós. Cada um ao seu modo, cada qual com a sua escuridão.
Se enxergar por completo dói muito, mas se autoconhecer e aprender a afagar e a aceitar o que não temos de tão bonito assim, cura, liberta e dá uma paz danada.
Durante a faculdade fiz cinco anos de terapia, da qual recebi alta depois de tratar questões internas que, na época, eu nem sabia que existiam e que me atrapalhavam muito.
Depois de anos, retornei. A pandemia me fez enxergar o quanto era importante para mim voltar a me ver. Nua, despida, por completo.
Sempre me encantei pelo autoconhecimento e, consecutivamente, fiz cursos que me auxiliassem a me compreender melhor.
Hoje, além da terapia, tenho uma mentora que durante quatro anos vem me ajudando a melhorar como pessoa, ser humano e mulher.
Autoconhecer-se não acaba. É a resposta de todas as dúvidas.
Por meio do autoconhecimento, compreendemos quem somos e porque somos. O que queremos e porque queremos. O que nos cabe e o que não nos cabe mais. O que aceitamos em nossa vida e o que dali não passa mais.
Conheça-te e serás livre. Conheça-te e aprenderás a te amar como nunca. Conheça-te e aprenderás a amar os outros. Conheça-te e aprenderás a aceitar melhor os outros.
Muda-se a visão e o mundo muda. Simples assim, se não fosse tão complexo.
Comparo o autoconhecimento ao germinar de uma flor que, inicialmente rudimentar, começa, com o tempo, a desabrochar, mostrando toda a sua beleza e maturidade.
Se autoconhecer não é se renegar, mas sim abraçar, respeitar e aceitar o que somos por inteiro, com todos os nossos lados, com todas as nossas versões.
Tudo se resume a isso: saber quem se é de verdade.
Ter coragem para se ver. Matar os monstros que nos atormentam e tornar-se amigo de nossa pior versão.
Nunca é sobre o outro. Sempre é sobre nós.
Se autoconhecer dói, para caramba, mas só através desse processo de dor e de confronto com as sombras é que se chega à luz e que se adquire a chave.
Aquela chave que abre todas as portas.
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