A metáfora da borboleta


Cris Netto

O ano era 2014. Eu participava de um evento de Gerenciamento de Projetos, quando entrei em um pequeno auditório, já lotado, para assistir à fala de um amigo, que faria uma palestra sobre criatividade coletiva. Em um primeiro momento, me senti um peixe fora d'água com meu caderninho moleskine, enquanto diversos jovens e profissionais que lá estavam, usavam seus celulares para tirarem fotos dos slides projetados na tela (lembrem-se, meus amigos, que estou falando de 2014! Há dez anos quem usava caneta e caderno em palestra já sentia ultrapassado!). Pois bem, voltando para a palestra. Enquanto meu amigo falava, uma borboleta entrou no auditório, e como se pudesse entender o que estava sendo discutido, pousou na tela de projeção e lá ficou, praticamente até o fim da fala do palestrante. Eu fiquei encantada com aquela presença inesperada, tanto que passei a rabiscar, no meu já antiquado caderninho, reflexões que esta borboleta despertara em mim. Hoje, revendo alguns textos antigos, me deparei com essa metáfora da borboleta, escrita naquela época, e quis trazer para cá, para dar a ela um lugar apropriado, porque ela é potente e verdadeira.

Assim como a borboleta, temos que romper muitas barreiras para mostrarmos toda nossa beleza e exuberância ao mundo. E não falo aqui dos primeiros traumas do nascimento, mas sim, das agruras por trás do segundo nascimento, aquele que escolhemos, quando olhamos para dentro de nós e nos descobrimos seres maravilhosos, repletos de habilidades e potencialidades, até então escondidas debaixo da poeira causada por sonhos não realizados.

Muitos de nós criam casulos durante toda existência, ao acreditar que a vida se resume em estudar, trabalhar, ficar rico e aproveitar a aposentadoria. Como essa não é uma linha, e sim, um círculo com infinitos recomeços, o casulo começa a se formar quando desistimos na primeira curva e tentamos retomar a linha, sem a percepção que jamais será reta. Contudo, para todos chega o momento que a essência fala mais alto e é preciso romper o casulo, já rígido e escuro.
Aí sim, ocorre o nosso segundo nascimento, quando quebramos nossas amarras e mostramos que temos asas e podemos voar. O primeiro voo ainda é sem destino certo, meio trôpego, quase às cegas, mas ainda sim, é um voo. Estamos livres para mostrar nossa beleza ao mundo, e encará-lo com nossas cores exuberantes, atingindo milhares de pessoas, durante o curto tempo de vida que ainda teremos.

O tempo médio de vida de uma borboleta é de duas semanas a um mês, sendo que algumas espécies vivem até 10 meses. E será que ao lutar tanto para romper o casulo, a borboleta tem noção da brevidade de sua vida? Não, provavelmente não. Ela tem vontade de nascer, de ver a luz do dia e, mesmo que não perceba, porque
em tese não pensa, ela conquista milhares de sorrisos por onde passa. Ou seja, ela atinge muitas vidas, mesmo que seja naquele milésimo de segundo que cruza o caminho de uma pessoa, que surpresa, abre um ar de riso e diz: Ah, uma borboleta, sinal de sorte! Sim, sorte sim, porque nos permitimos enxergar as borboletas do caminho ao invés de ignorá-las.

Convido todos a romperam seus casulos e viverem como as borboletas, sem se preocupar com a brevidade da vida, apenas acreditando nas surpresas do caminho.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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