A verdade que esqueceu de acontecer


Cris Netto

Mais do que contar histórias, escrever é uma forma de viver o que nunca aconteceu. Um baile de debutantes cancelado de última hora, porque a menina virou mulher antes de usar salto pela primeira vez. Um amor de verão que acabou quando o outono chegou. Um Natal em Nova York para quem nem passaporte tem. Tudo que não aconteceu é gatilho e pode virar um lindo romance e um dia chegar às estantes das livrarias como um best seller. Ou esta seja somente mais uma bela introdução de algo que nunca vai acontecer. Não importa, a tela em branco, o papel e a caneta, o caderno aceita tudo sem reclamar. Os barulhos da noite assustam, parecem fantasmas assombrando. O vento uiva lá fora enquanto digito freneticamente para não perder nenhuma palavra, nenhum desejo, não esquecer novamente algum sonho engavetado. Para escrever é preciso planejar, desenhar, criar, controlar, voltar atrás, revisar e corrigir. Não seria a vida também assim? Quantas histórias vivemos enquanto estamos esperando que apareça aquele best seller? Quanta vida deixamos para traz enquanto lamentamos por tudo que esqueceu de acontecer? Melhor que o rancor, o conto. Melhor que a dor de uma tragédia, o romance. Melhor que as arestas da vida, uma crônica bem escrita. Um viver e inventar, planejar e realizar looping sem fim do nosso universo.
Algumas das coisas escritas aqui de fato aconteceram, outras foram inventadas. Você consegue adivinhar as verdades e mentiras? A quem importa? Não mais a mim! No momento que publiquei, o texto não pertence mais só a mim. Divido a existência dele com meus leitores e entrego o bastão, relegando a eles a autoridade de acreditarem no que quiserem como verdade.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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