Eles crescem e as mães que lutem


Cris Netto

Como mãe, experimentamos inúmeras primeiras vezes. Algumas marcam mais do que outras. Mas talvez as mais impactantes sejam os primeiros dias de aula.
Nos meus seis primeiros anos como mãe, já experimentei algumas adaptações escolares. Desde a primeira, aos 18 meses, sofrida, para mim e para ele, até a desse ano, sofrida só para mim, ao que tudo indica. Dois anos de aulas on line e tudo o que as crianças queriam era estar com outras crianças. Correr, pular, gritar, extravasar toda a energia guardada. E é assim que deve ser. Enquanto nós, os adultos, em especial as mães, que tratemos de resolver nossos medos e expectativas.
As crianças ingressaram no primeiro ano, estão curiosas com o novo, com as novas responsabilidades, as dinâmicas diferentes da sala de aula. Mas ainda assim, seguem sendo crianças e se adaptando do seu jeito, brincando e levando a vida leve.
São as mães que complicam. Mas crianças não param, como vão sentar e prestar atenção? Em primeiro lugar, crianças não param porque normalmente estamos ocupados demais para darmos a atenção que eles precisam e o jeito deles de clamarem por essa atenção é correndo, gritando ou pedindo comida. Já na sala de aula eles tem a professora disponível, amorosa, pacienciosa, abrindo um mundo de conhecimento para eles. Eles tem sede de aprender e elas, vontade de ensinar.
Ah, mas eles vão ficar com saudades...Claro que vão, depois de aprender, de comer, de brincar, de explorar,.ah pode ser que eles sintam saudades.Mas sabem que está quase na hora dos pais buscarem. A rotina é conhecida, trabalhada, construída por eles. Por isso, segura.
Ah mas em casa eles não comem direito! Na escola eles estão entre iguais e o instinto de sobrevivência e de comparação é ativado. Em casa eles recusam e a gente oferece outra coisa. Na escola, não tem outra opção. E o coleguinha está comendo. Então talvez não seja tão ruim assim.
E por aí vai. Eu poderia levantar diversos outros medos que as mães tem e rebater todos. Mas mesmo assim, mesmo conhecendo tudo isso, tendo lido e estudado tanto sobre infâncias, quando chega a nossa vez, quando é o nosso filho que cresce e ganha asas, dói e aquele tão esperado sossego, aquelas horas de tranquilidade, aqueles momentos de trabalho produtivo, viram o aperto no peito. O suor das mãos, o calafrio pelo corpo, a lágrima que teima em correr.
Um pedaço de nós cresceu. Somos cada vez menos requisitadas, para não dizer dispensáveis e por mais que o orgulho existe, o medo também nos acompanha e, principalmente, a angústia da certeza de que o tempo não volta. E é cruel demais com as mães.
Por isso que eu digo, abracem enquanto eles querem, façam cama compartilhada enquanto eles pedem, beijem enquanto eles deixam. Aproveitem a infância, porque aos seis anos, a primeira parte dela já se foi.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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