Cabelos ao Vento


Ana Helena Reis

Sempre admirei o glamour dos cabelos ao vento. Lindas mulheres como Grace Kelly, Audrey Hepburn e Tippi Hedren sabiam, como ninguém, a arte de envolver negligentemente as madeixas em um lenço de seda, arrematado por uma volta suave no pescoço, que deixava as pontas dos cabelos voarem livremente.

As cenas de filmes clássicos em que elas foram protagonistas, como Ladrão de Casaca, Charade e The Birds, me provocavam sonhos de princesa. Imaginava estar em um carro conversível, coberta de charme - lenço de seda estampado, combinando com vestido decotado e óculos escuros. Em meus sonhos idílicos, podia até sentir um vento ameno e perfumado no rosto.

Foi envolta nessa fantasia que, há alguns anos, tive a oportunidade de fazer uma viagem a bordo de um Mustang vermelho conversível. Era um percurso de aproximadamente 300k por uma linda estrada à beira mar, em pleno verão da Flórida. Levei vestidos leves e longos e escolhi os lenços que fariam par com meu look vintage.

Era chegado o momento. Recém saído da locadora, veio se aproximando o veículo que já apareceu em mais de 3.800 produções de Hollywood, em seus diferentes modelos. O nosso era um Mustang V8 Conversível Vermelho, com toda a pompa e circunstância de um ícone de magna grandeza.

Tive que fazer uma reverência, não havia outro jeito. Não propriamente fruto da minha admiração e sim porque para entrar no carro foi necessário abaixar, quase agachar, já que os bancos eram praticamente encostados no chão.

Uma vez emparedada ali no meu cockpit, estiquei as pernas que ficavam praticamente na horizontal e me acomodei como dava, ainda levando tudo na esportiva – afinal logo mais, quando o veículo entrasse em movimento, iria sentir o frescor dos cabelos ao vento. Coloquei meu lenço à moda Grace Kelly, e lá partimos rumo à paradisíaca Key West.

Com o que eu não contava: Temperatura de 38° e sol a pino, com céu de brigadeiro. Mustang conversível é sinônimo de capota baixada, portanto, logo de início comecei a sentir que o meu lindo lenço não iria impedir de cozinhar os miolos. Mas...tudo bela beleza, fiquei firme. Aos poucos, fui sentindo que o problema não era somente o calor de cima para baixo e sim o de baixo para cima – a carroceria desse tipo de carro esportivo é quase encostada no asfalto, o que significa que a pessoa fica literalmente sentada em uma chaleira fumegante. Comecei a cozinhar, literalmente.

E os cabelos esvoaçantes? Não sei por que, ao invés de, como nos filmes, ficarem volitando somente nas pontas fora do lenço, saiam pela testa e pelos lados. O lenço não parava no lugar, conforme o combinado.
Como resultado, as madeixas, desgovernadas, grudavam no rosto já suado e na boca cada vez que me virava, borrando ainda mais a maquiagem que já tinha desmilinguido.

Ao me olhar no espelho tentando ajeitar um pouco o lenço, o que vi foi uma Madame Mim desgrenhada, vermelha como um pimentão. Nada, nem de longe, parecido com minhas musas do cinema.

Me recuso, porém, a assistir A Espada Era a Lei!

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