Infância Perdida


Cris Netto

Os protocolos exigem distanciamento, uso de máscaras e proíbem aglomerações. Entenda-se: crianças longe dos avós, sem beijos, sem abraços. Crianças de todas as idades que ficaram mais de 18 meses privadas do convívio social com outras crianças. Confinadas em casa, com adultos estressados, ocupados demais para dar a atenção necessária para os pequenos. E mesmo com todas essas perdas, precisamos agradecer por estarmos todos vivos.

O discurso da infância perdida já é velho e virou clichê. Fato é que a infância só dura 12 anos e 02 desses já se passaram em pandemia. Muito tentei agir como se nada estivesse acontecendo, para manter meu filho em uma bolha. Contudo, nem a melhor bolha, feita do mais puro amor, resiste a 18 meses apartados de tudo aquilo que mais dá sentido à vida.

Agora voltamos a nos encontrar. As crianças retornaram para a escola, mas as relações não são mais as mesmas. As pessoas olham com receio para aqueles que muito se aproximam. Se por ventura você tira a máscara em público, é taxado de bolsonarista, hoje um palavrão, se você fica em home office, é folgado, arranjando desculpas para não trabalhar. Se você volta, está se arriscando e arriscando a sua família.

Tempos difíceis. Nos acostumamos cedo demais com a morte, com a dor, com a perda. Comemoramos 447 mortes diárias como uma vitória. Já não nós apavoramos mais. Não nos surpreendemos, nem nos entristecemos.

Perdemos tanto e ainda não encontrei o que ganhamos com toda essa loucura. A única certeza que trago comigo é que estamos perdendo a infância, já tão curta, de nossos filhos. Vidas abreviadas, pela infância acelerada.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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