Trabalho Duro e Invisível


Cris Netto

Só as mulheres geram novas vidas. Só as mulheres amamentam. Essas duas premissas já evidenciam um problema cultural complexo de nossos tempos: a solidão materna e a invisibilidade das mulheres. Eu nunca tinha ouvido falar em solidão materna até me tornar mãe. Durante o puerpério, cheguei a escrever que sentia como se eu tivesse morrido como mulher e renascido como mãe. Na ocasião, acharam que eu estava exagerando e muito ouvi falar sobre a "romantização" da solidão materna. Por que faríamos isso? Quando tudo o que queremos enquanto mãe é empatia e respeito. Reconhecimento seria um luxo. Quem critica a solidão ou não é mãe ou tem uma excelente rede de apoio, que nunca falha, mesmo com a pandemia.
Uma criança consome muito tempo e energia de seus pais, principalmente nos primeiros anos. E se a mulher assume o papel de mãe e pai sozinha, o cansaço, a exaustão e o desespero são inevitáveis, porém, imperceptível aos olhos de muitos. Condena-se a mãe que retorna ao trabalho após 04 meses, deixando o filho aos cuidados de terceiros. Mas alguém bonifica a mulher que abdica de seu futuro profissional em prol do cuidado com os filhos e a casa? Esse sacrifício é visto como obrigação, uma consequência por ter tido filhos. "Não queria filhos? Então que aguente!" Quantas vezes já ouvimos isso? E quantas respondemos?! É triste, mas séculos de opressão cultivaram a ideia de que quem pariu, que crie sozinha. E está tudo bem. Nunca esteve bem. A situação agrava-se mais ainda quando há um companheiro presente, mas que abusa física ou psicologicamente, da mulher e dos filhos. E por medo, a mulher cala. Aceita. Submete-se. Teme pela vida e pela perda da guarda dos filhos, desconhece os seus direitos. Cala. Consente e se consome. Afundando mais e mais no próprio buraco negro.
É preciso que mais mulheres como Stephanie Land, autora do livro que deu origem à série Maid, em cartaz na Netflix, divulguem suas histórias de resiliência e coragem, para que essa cultura destrutiva de invisibilidade e solidão tenha fim.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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