Poderosas


Ana Helena Reis

Sofro de encolhimento. Tenho evitado me expor, e devo dizer que, nesse sentido, o isolamento social imposto pela Pandemia até que foi um alívio. Como vou me apresentar em público desse jeito?

Tenho observado as mocinhas no caixa do supermercado, exibindo confiantes seu sucesso. Quero me convencer de que é porque pertencem a outro grupo social, com outra idade, outros códigos visuais. Quando sento, porém, para ver o noticiário na televisão, lá estão as outras com a mesma petulância, prontas para saltar da tela e me reduzir a pó.

Procuro consolo olhando algumas fotos antigas, e ali me vejo representada. Fininha, delicada, de contornos suaves e colorido natural. Já fui moda! Era destaque em capas de revistas, padrão para as meninas que entravam na adolescência e estava no rol das musas da década de 90, como Kate Moss e Angelina Jolie.

Elas capricharam no padrão discreto, ordenado, dando espaço para realçar seu olhar definido e penetrante. Vieram para colocar ordem na casa e acabar com aquele estilo mais bagunçado e cheinho, tipo o que era usado pela Madona e que fazia sucesso nos anos 80.

Reinaram poderosas até bem pouco tempo atrás, mas, de repente, tudo mudou. As robustas tomaram conta do mercado. Elas são arrogantes, exibidas, não tenho como ignorar, fingir que não percebo sua presença, para qualquer lado que olhe.

Frente a tanta exibição, fui me encolhendo, humilhada. Mesmo que quisesse não teria como adotar o novo estilo, a não ser por um procedimento estético. Tive que me sujeitar a uma consulta com um especialista, aquele que faz harmonização visual.

Aguentei firme, mas na hora em que um ele usou um software de simulação para mostrar como ficaria, literalmente desabei por cima dos olhos. Nem morta deixaria que me transformassem nas sobrancelhas da Frida Kahlo.

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