Documentário: 'O Dilema das Redes' - Um Alerta


”O Dilema das Redes”- Um Alerta

As tecnologias exercem um fascínio absoluto sobre as pessoas, especialmente nas crianças e jovens. Neste sentido fica a questão: será que estamos nos expondo de forma excessiva as tecnologias? Para compreender esta nova era é preciso buscar saberes e entender as consequências de uma vida digital desde danos psicológicos, psicomotores até os psicossociais.
Para uma reflexão trago o alerta do documentário “O Dilema das Redes” lançado dia 9 de setembro pela Netflix, interessante ser visto e com especial atenção. Durante toda a exibição questionamentos surgem e inicia com a célebre frase de Sófocles: “Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição.”
Este documentário contém informações trazidas por ex-executivos de algumas das maiores Big Techs mundiais: Facebook, Youtube, Apple, Palm, Mozilla Labs, Firefox, Google, Pinterest, Twitter e Instagram, sob a direção de Jeff Orlowski. Abaixo alguns pontos principais para entendermos o assunto:

Polarização pessoal e política:
A polarização já existe em outras mídias como a televisão que vendem a nossa atenção aos anunciantes, porém a internet é mais eficiente. Neste contexto é colocado sobre as fake news avançando e se espalhando no mundo inteiro; os frequentes ciberataques; as teorias da conspiração propagadas; eleições hackeadas e manipuladas; discórdia política; crimes contra a humanidade; vídeos recomendados que aumentam a polarização na sociedade; grupos são criados na internet para espalhar terrorismo; linchamento causando mortes e ataques reais podendo chegar até uma guerra civil. O próprio coronavírus foi alvo de milhares de fake news. A democracia está sob ataque e o próprio funcionamento da sociedade está em jogo porque as pessoas não fazem idéia de qual é a verdade.
Dentro desta questão o objetivo é o mesmo em todas as redes: ganhar dinheiro. E para tal são estabelecidas estratégias para prender os usuários o máximo de tempo, ou seja, a polarização é necessária para manter as pessoas online. Saímos da era da informação para a era da desinformação, foi dito.

Mercado da Internet:
Esse mercado da internet negocia futuros de humanos, da mesma forma que negociam futuros de petróleo, de carne. Assim as empresas de internet se tornaram as empresas mais ricas da história. Cada ação que fazemos é monitorada em tempos e imagens, e nossos dados não são vendidos e sim compilados.

Eleições:
As eleições do Brasil e dos Estados Unidos foram ressaltadas devido às redes sociais terem sido fundamentais para que os atuais líderes Jair Bolsonaro e Donald Trump chegassem ao poder.

Metas das Redes Sociais:
As redes sociais têm metas claras como o engajamento para nos manter conectados, o crescimento para atrair mais amigos e assim voltar à rede e a propaganda. Enquanto as duas anteriores acontecem as redes ganham dinheiro com as propagandas. Para cada meta são criados algoritmos para manter o usuário conectado.

Rede Manipuladora:
A rede é manipuladora, como uma mágica que engana as pessoas. Os ilusionistas entendem como as mentes das pessoas funcionam e isso nos mostra o quanto somos vulneráveis. A idéia é que a tecnologia seja persuasiva com objetivo de modificar nosso comportamento.
Aperte o botão atualizar e novidades aparecerão. Chama-se isso na psicologia de Reforço Intermitente Positivo, a idéia é implantar no tronco cerebral um ato inconsciente. Quando o celular envia uma notificação, por exemplo, você olha imediatamente. Outra grande estratégia apresentada foi a marcação de fotos com o objetivo de trazer mais pessoas conectadas. E os emojis atingem diretamente nosso psicológico e com isso nos mantém mais engajados com os posts. É como se fossemos cobaias, as empresas fazem pequenos experimentos o tempo todo com os usuários.

Inteligência Artificial:
Coloca-se que por inteligência artificial descobrem o que causa reação em nós através da simulação de dados. A exploração da vulnerabilidade do psicológico humano é usada contra você mesmo, e a partir desse princípio a rede social deixa de ser uma ferramenta, pois perceberam que podem afetar as emoções e comportamento sem desencadear a consciência dos usuários. A AI executa algoritmos simples ou complexos e, ao computador são atribuídos comandos, quanto mais informação damos para ele mais aprende, criando assim novos algoritmos.

Chupeta Digital:
Outro ponto abordado é o de chegarmos em casa e deixarmos os filhos de lado, tema discutido já há algum tempo. É falado que estamos treinando a nova geração a ter uma chupeta digital para controlar a solidão, os incômodos, o medo e que evoluímos para recebermos aprovação social.

Geração Z (nascidos de 1995 até 2010):
Ressaltado com muita propriedade a questão da mudança de toda uma geração. Essa é a primeira geração de todos os tempos que tem acesso a rede social antes mesmo de terminar o ensino médio. Ninguém perguntou aos psicólogos infantis como deveriam ser os produtos tecnológicos para crianças e jovens e sim, foram criados algoritmos para fazer este trabalho. E desta forma avassaladora estamos vendo a auto-estima desta geração sendo alterada com aumento de casos de ansiedade e depressão. A rede social não altera somente auto-estima dos jovens, mas também dos adultos, pois olhamos somente imagens e as decodificamos.

Falsa recompensa:
Vivemos em uma falsa noção de percepção, uma vez que somos recompensados com sinais de curto prazo como as curtidas. Cabe pensar que quanto mais curtidas e coraçãozinhos tivermos, mais estaremos sendo recompensados.

Xeque-mate:
Outra reflexão apontada foi a que sempre tivemos medo que a tecnologia tirasse empregos, mas na verdade está muito além. Há um momento anterior em que a tecnologia supera as fraquezas humanas. É o xeque mate na humanidade.

Propaganda - somos o produto:
Tem-se a falsa impressão de que tudo na internet é de graça, mas na verdade não é. Se você não paga pelo produto então você é o produto e os anunciantes são os clientes.

Responsabilidades das Plataformas e do Governo:
Ressaltam a importância das plataformas investirem em tecnologia para auxiliar na detecção de conteúdos de discurso de ódio, conspiração, fake news. É necessário que os governos criem estratégias e regulamentações em relação aos algoritmos assim como de segurança na rede e realinhar objetivos financeiros e fiscais. Sugerem que se taxem as coletas e processamentos de dados da mesma forma que o consumo de água é taxado e tenham-se mais leis para privacidade digital.

Fecho o alerta com a questão apontada por Tristan Harris ex-executivo do Google: “Senão concordarmos sobre o que é a verdade, ou que existe uma coisa como a verdade, estamos ferrados. Esse é o problema abaixo de outros problemas, porque senão concordarmos sobre o que é verdade, então não poderemos sair de nenhum de nossos problemas.”

Depois desta leitura podemos nos perguntar: Devemos sair da internet ou abandonar as redes sociais? O que podemos fazer e quais são as nossas responsabilidades? Não é novidade o conteúdo deste documentário, porém tem seu valor na medida em que conseguiram sintetizar todo o problema numa única narrativa em forma de alerta e que o caminho é buscar a verdade.
Assim como em outros tempos tivemos dilemas com a televisão, rádio e jornal, agora chegou a vez da internet.
A responsabilidade é de todos, das Big Techs, dos órgãos governamentais, da sociedade e pensando na perspectiva que as tecnologias vieram para ficar é necessário repensar as práticas educativas e criar estratégias para explorar o ciberespaço de forma segura a fim de obter efeitos positivos.
Como reflexo desta era moderna é preciso estar atento, perceber que as redes sociais não proporcionam experiências sensoriais nem afetivas por ser uma comunicação predominantemente com imagens. Aprendemos com todos os sentidos e a literacia será digital, porém no paradoxo do mundo moderno com a invasão das tecnologias tem-se a necessidade de saber lidar com as duas realidades (a do mundo real e a do mundo virtual). É importante o estabelecimento de limites ao uso das redes sociais e buscar o equilíbrio porque problemas continuarão surgindo e desafios virão juntos. A internet tem um enorme potencial, porém integrá-la e alinhá-la às nossas vidas é uma tarefa a ser aprendida filtrando as informações pela sua relevância e ter acesso de forma ordenada e orientada. A busca de novos saberes, a reflexão sobre a condição humana de valores morais e éticos para nós e para serem transmitidos aos filhos visando um futuro equilibrado também é um dos caminhos a serem seguidos.
Por fim, é importante pensar que não podemos deixar que as tecnologias nos dominem e sim que sejam aliadas as nossas tarefas diárias.


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