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Leney Veloso

Terminei o que estava fazendo e ajeitei minha calça de couro preta, que contornava com perfeição o meu quadril. Alisei meu cropped rendado e saí da cabine do banheiro dando de cara com uma daquelas cenas raras na vida. Recostei meu ombro, cruzei meus braços e curti o momento.
A perfeição máscula estava fazendo suas necessidades, sem perceber que era observado. A calça jeans escura valorizava e muito a perfeição da obra divina. Os ombros pareciam daqueles que dedicavam horas no serviço pesado.
Ele deve ter sentido o peso do meu olhar e girou o pescoço. Ruguinhas se formaram entorno do olhar quando ele percebeu quem o estava observando, a sombra do sorriso era ainda mais atraente. Gay ou casado, na certa.
- Tá perdida? – ele perguntou, fechando o zíper antes de se virar para mim.
A encarada que ele deu no meu decote e depois desceu para observar o resto descartou a primeira opção. Tentei checar os dedos, mas ele foi em direção à pia, lavar as mãos.
- Não. Só apreciando o presente que recebi – respondi, mordendo o lábio. Ele girou para mim com o papel toalha nas mãos. Aproveitei para analisar a parte da frente da mesma forma como fiz com a de trás. Casado ou com o pé no altar.
- Esse é o banheiro masculino – ele informou com aquele mesmo sorriso de quem estava me vendo nua. Tudo bem. Eu já o havia despido bem antes.
- Tô sabendo – respondi também sorrindo, e imitei o gesto dele de lavar as mãos.
- E então?
- Você viu o tamanho da fila do feminino? Eu tenho coisas mais interessantes pra fazer do que perder metade da noite na fila pra fazer xixi – informei e dei um passo na direção dele. Ele espelhou minha ação e eu quase pude sentir o sabor daqueles lábios sob aquela barba bem-feita.
- Benjamim. – É claro, delícia. Beijo você todo.
- Liv – respondi, pronta para pressioná-lo contra aquela parede e verificar se a pegada dele era tão boa quanto a propaganda visual indicava.
- Só Liv? – Lá estava aquelas ruguinhas nos olhos e aquele sorriso de canto.
Minha bebida deve ter sido batizada. Um homem desses só em livro pornô ou em comercial de cueca.
- E precisa mais? – respondi, analisando todas as possibilidades. Eu iria agarrar esse homem e ele iria deixar.
- Ben, cara. As meninas estão esperando. Quanta demora só pra mijar. Opa! – Um sujeitinho irritante entrou, estragando todo o clima.
- Tchau, Ben. Não deixe as meninas esperando. A mulher aqui vai curtir a noite – afirmei e passei por ele, sem deixar de me aproveitar e passar os dedos no abdome que, sim, era todo durinho. O gemido que ele soltou alegrou a minha noite, apesar da decepção. Meninas! Que ódio!
Caminhei toda confiante, certa de que os dois estavam devorando a minha bunda com o olhar. Também quem não devoraria essa exuberância deliciosa?
Meu nome é Olivia, tenho vinte e nove anos, 1,75, e todos os quilos necessários para se produzir a perfeição.
Houve apenas uma vez, uma única vez que cheguei em casa chorando por causa de um idiotinha, na pré-escola, que me chamou de gorda. E a mãe mais perfeita de todas, a minha, me perguntou por que eu estava chorando e quando respondi, o que ela disse mudou completamente a forma como eu me enxergava.
- Mas você é gorda, meu amor. Você é alta, loira, olhos azuis, gorda e linda. E você nunca mais vai deixar que alguém te desmereça por causa das suas qualidades.
Sim, qualidades. Ao contrário do que a sociedade prega, nunca vi meu tamanho como um obstáculo ou algo a ser combatido. E sei muito bem como utilizá-lo ao meu favor. Uma mulher é tão bela e poderosa quanto acredita ser. E eu tenho certeza de que sou uma grande gostosa da porra. E os marmanjos babando no banheiro masculino são uma pequena prova do quanto estou certa.


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Leney Veloso

E-mail: leneymv@hotmail.com

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