O peso dos livros esquecidos


Cris Netto

A minha estante de livros desabou. Ela deveria ser sólida como uma rocha, para envolver todos os destinos que abriga em suas obras, mas uma de suas prateleiras não resistiu ao peso da responsabilidade por tantos sonhos que sustentava. Ela ruiu com o peso dos livros. E essa queda me fez refletir: Quantos livros uma estante suporta? De quantos livros uma pessoa precisa para ser feliz? Não tenho nenhuma dessas respostas. Em um primeiro momento diria que preciso de MUITOS livros. Depois, pensando um pouco mais racionalmente, me perguntei: Quantos livros eu conseguirei ler na vida? Quantos eu li no último ano? Quantos abandonei? Quantos comprei e nem abri? Da minha vasta estante, agora em ruínas, quantos foram realmente lidos, resenhados, registrados e absorvidos?

No final de 2018 tinha estabelecido uma meta de ler um livro por mês. Tristemente constatei que durante todo o ano de 2019 comecei várias leituras, mas terminei apenas 01. Então, a ruína da minha estante tem um sentido. Ela não está sobrecarregada de livros apenas, ela está com sobrecarga de livros esquecidos e não lidos, o que é muito pior! Por mais que eu ame os livros, e eu os amo de verdade, é uma tristeza deixá-los ruir junto com a estante. Ela precisa respirar e eles precisam ser lidos, senão por mim, por outras pessoas. Eles não podem ficar esquecidos, à mercê do pó e das teias de aranhas, enquanto eu fico brigando com minhas metas de leituras e com meu cansaço ao final de cada dia, que não me permite ler mais do que duas páginas por noite. Ou muda-se a realidade e os hábitos, ou doam-se os livros! Ou melhor ainda, mudam-se os hábitos e doam-se os livros! A estante respira, os livros circulam e eu respiro um pouco mais aliviada, em vê-los em um local mais organizado, digno das histórias e personagens que habitam suas já cansadas prateleiras.

Ainda não é a estante inteira. Ainda não é a biblioteca dos sonhos. Ainda não é a configuração ideal. Mas foi dado o primeiro passo. Quatorze livros foram doados ou devolvidos aos seus donos e os que ficaram, ganharam visibilidade, atenção e cuidado. Tiveram sua dignidade devolvida e eu, agora mais tranquila, posso novamente estabelecer outras metas: Um livro por mês? Um livro clássico por ano? A cada livro lido, um livro doado? Só comprar mais livros depois que terminar de ler um? Sim, são boas metas. Mas de nada irão adiantar se não forem cumpridas. Então por hora, só faço um apelo: Estante, por favor, não derrube mais nenhuma de suas prateleiras! Aguente o peso das minhas viagens, em breve seguirei por todos esses caminhos e te deixarei respirar um pouco mais. Por hora, apenas fique firme.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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