A criatividade perdida


Cris Netto

Quando meu filho era menor, ele adorava colorir e desenhar. Por ser muito novo, seus desenhos não passavam de riscos, com poucas formas. Em sua inocência, inteligência e criatividade, ele sabia exatamente o que cada risco significa.

Em um dia qualquer, estava desenhando com ele e peguei um dos meus livros de colorir. Presa à uma crença limitante de que crianças não mexem em livros de adultos, em um primeiro momento quis separar os livros. Disse a ele: “A mamãe vai pintar este e você pinta aquele (apontando para os já riscados e amassados livrinhos dele). Ele respondeu: “Mas eu quero pintar junto!” E como não resisto àqueles olhinhos de jabuticaba me pedindo alguma coisa, deixei. Como era de se esperar, nossa pintura conjunta ficou muito bonita!

Entre cores e rabiscos, me peguei refletindo: Quando e onde perdemos a nossa espontaneidade e criatividade? Toda criança sabe desenhar e muitos adultos esquecem dessa habilidade ao longo dos anos. Viajei até o “Pequeno Príncipe” e seu eterno elefante dentro de uma jiboia. Para os pequenos, não interessa se o céu é azul, as árvores são verdes, e o sol é amarelo. Importa que os dinossauros possam habitar as mesmas florestas dos leões, dos macacos e dos robôs. À medida que crescemos, escutamos que tudo precisa ter o seu lugar, que os carros são para os meninos e que as bonecas são para as meninas, que adultos não brincam, não pintam, não desenham. Fomos acrescentando responsabilidades e perdendo grande parte da nossa habilidade de criar. Em nome do status da vida adulta, esquecemos a pureza e a simplicidade. Aprendemos e construímos crenças que vão, pouco a pouco, podando e limitando nosso universo imaginativo.

Até que a vida clama por um pouco mais de calma e sentimos a necessidade de desacelerar, de voltar um degrau na evolução e resgatar um pouco do que perdemos pelo caminho. As editoras, percebendo isso, lançaram, há alguns anos, uma diversidade de livros para colorir para adultos, com o objetivo de ajudar os estressados a se acalmarem, os acelerados a desacelerarem e os hiperativos a se centrarem. Todos esses são objetivos válidos, mas não seria mais fácil se não perdêssemos a inocência e a beleza da infância? Somos toldados na educação formal a seguirmos padrões antigos e quando entramos no mercado de trabalho, somos cobrados por inovação e criatividade. Há uma distância muito grande entre os dois mundos, o da educação e do trabalho, quando na verdade, eles deveriam estar sintonizados, visto que tratam de um único universo, o nosso, enquanto seres humanos.

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Cris Netto

E-mail: cristiane.snetto@gmail.com

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