A Lua de Muriel


Cris Netto

Muriel brincava e cantava com suas bonecas. Logo, silenciou. Lembrou que o som de sua voz poderia incomodar o padrasto. Vestiu as bonecas como se fossem para a Igreja no domingo. Pouco a pouco foi tirando as roupas das bonecas. Tirou o vestido de uma. Deixou de lado. Tirou a calcinha da outra. Sorriu ao vê-la sem a parte de baixo. Deixou de lado. Tirou o sapato da próxima, soltou-lhe os cabelos. Cada uma tinha algo que o padrasto gostava. Posicionou todas em cima da cama. Penteou os cabelos, pintou de batom as bocas e corou as bochechas com blush. Cobriu-lhes com o cobertor até a cabeça. Logo ele chegaria e teria uma surpresa. Ela não estaria mais ali, a Lua a levaria, mas deixaria de presente para aquele que tanto a amava, suas filhas, seus bens mais preciosos. Olhou para a janela. A Lua já estava redonda e luminosa, em todo o seu esplendor. Pegou a venda preta. Escalou a cômoda até chegar no peitoral. Vendou os olhos e entregou-se para a Lua. Como prometera, ela a levaria. A libertaria. De olhos vendados, para não ver o que ficou para trás, mas segura do que estava fazendo, Muriel saltou em silêncio e com um sorriso no rosto. Juntou-se à Lua e descobriu o brilho próprio de estrela.

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Cris Netto

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