Mães na Pandemia


Cris Netto

Qual é o seu estado de espírito nesta pandemia interminável? Existem os eternamente otimistas, os pessimistas extremos, os que nunca pararam, os que desistiram, os que resistiram e existem também, as mães.

As mães constituem uma categoria à parte. Elas reúnem o há de melhor em cada um dos outros estados de espíritos, a esperança, a coragem, a força, o engajamento. Mas também recebem o que de pior existe em cada grupo: o medo, o cansaço, a falta de reconhecimento, a solidão.

A solidão das mães não vem só do isolamento e da falta de rede de apoio. Vem do total distanciamento ainda existente entre os significados de maternar e de ter um filho. A solidão vem do cansaço das noites insones, amamentando, acalentando, velando o filho. Alguns pais podem ajudar, contudo em algum momento eles precisam parar e descansar. As mães também, mas por uma concepção de mundo machista e patriarcal, a mãe que fica em casa, seja por escolha ou por necessidade, é muito mais resistente ao cansaço do que os pais. As mulheres são consideradas o sexo frágil, mas as mães desconhecem essa fraqueza após gerarem um filho. Não há cansaço físico ou mental que não sucumba ao choro de um filho no meio da madrugada.

O cansaço das mães é invisível. É compreensível que se fechem em home office para trabalharem, mas não podem fechar todas as portas ao mesmo tempo, do banheiro, da cozinha, da sala, do pátio. A casa se tornou o home office do pai e da mãe e a escola dos filhos, mas não deixou de ser a casa das crianças. Ah, as crianças, não podemos esquecer delas na ordem de prioridade das mães. Os maridos irão reclamar, assim como os chefes e os colegas também poderão sentir, mas para a grande maioria das mães, a prioridade é o filho, não importa se eles estão em casa ou na escola. Se eles sofrerem, elas sofrem. Se eles cansarem, elas cansam, se eles chorarem, elas acolhem e depois choram também.

E dentre todo esse caos que se instaurou no mundo, há também o caos instaurado nos lares de cada mãe cansada e esgotada. O caos instaurado em cada mãe de linha de frente, que fica 20, 30 dias sem ver os filhos. Que salva vidas, que perde vidas e que a cada perda, lembra e sofre com o tempo que está perdendo da infância dos seus próprios filhos. Toda a profissão é nobre, todo o trabalho é digno, assim como é nobre e digno o maternar. O estar com o filho, acompanhar o seu crescimento, suas primeiras palavras, seus primeiros passos, suas primeiras leituras, seus primeiros amores, seus primeiros desenlaces. Filho não tem idade porque a mãe não deixa de ser mãe nunca. Por isso sofre quando já virou avó e não pode ajudar os filhos com os netos, porque o vírus segrega, transforma e acaba com famílias inteiras. Diversos foram os amores, os pais, os amigos que perdemos nesses 13 meses de pandemia. E por cada um deles poderia derramar uma lágrima. Mas a dor de uma mãe é a dor de todas as mães. A dor de um filho que perde sua mãe é a dor de todas as outras mães que ficaram.

Ao agradecer por mais um dia ao lado do meu filho, também peço a Deus um pouco de acalento para as milhares de mães que hoje, por conta do vírus estão longes, cansadas, com medo, invisíveis e solitárias. Vai passar, por isso, até lá, muito amor e compaixão para todos.

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Cris Netto

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