Paralisia do Sono


Aline Peterson

Do que estou contando aqui, não posso ter certeza de nada. Apenas posso afirmar que o medo que senti naqueles intermináveis momentos, causado pela nitidez das impressões que vivi, isso sim, foi real. Eu só queria um sábado de descanso, acho que não era pedir muito depois de ter trabalhado como uma louca a semana toda. Só queria ficar no sofá comendo e tomando vinho enquanto eu assistia a alguma coisa que não fizesse eu ter a sensação de estar perdendo meu tempo. Escolhi “O bebê de Rosemary” porque tinha ouvido algumas vezes que é um ótimo filme, um clássico. Eu sempre gostei de filmes de terror, mas não costumo assisti-los desde que comecei a morar sozinha, porque tenho medo de ter pesadelos e, principalmente, dos eventos de paralisia do sono que eu costumava ter quando morava na casa dos meus pais. Mas era dia ainda, ia demorar até a hora de dormir.
O filme foi realmente impressionante. Os diálogos tranquilos sobre o cotidiano dos personagens dão a falsa ideia de um ambiente tranquilo, embora nos forneçam informações importantes sobre o que vem depois. A cena em que Rosemary está semiconsciente me chocou profundamente, apresentava os mesmos limites entre sonho e realidade que eu experimentaria mais tarde, afinal, aqueles olhos vermelhos não olhavam só para ela, mas para mim também, embora naquele momento eu ainda não soubesse que também receberia uma visita.
Terminei o filme, vi mais algumas coisas na televisão, alguns documentários acerca de assuntos aleatórios, na tentativa de não levar para o sono aquilo que eu tinha visto no filme de Polanski. Antes de ir pra cama, ainda tomei um banho demorado e preparei o rotineiro chá que gostava de tomar antes de dormir. Deixei a porta entreaberta para que o quarto recebesse parte da luz que havia deixado acesa na sala. Assim, não terei pesadelos, pensei. A luz que entrava era suficiente para que eu enxergasse alguns objetos a minha volta, entre eles, um quadro que estava pendurado do lado oposto da porta, com o rosto de Aladdin Sane.
Não sei por quanto tempo dormi, tenho a impressão de que foram apenas alguns minutos. Sei apenas que acordei e já estava imóvel, com os olhos vidrados no teto e sem conseguir me mexer. Ao meu lado, uma visita muito similar àquela que vira no filme, mais pelo sentimento de horror do que pelo que eu podia enxergar, já que via apenas sua silhueta ao meu lado. A sensação era das mais apavorantes, pois a criatura estava grudada em mim, e mantinha seu braço em torno de meu corpo. Apesar de não conseguir vê-lo nitidamente, sabia que estava sob suas vontades, eu sentia isso de alguma forma. Sentia que não conseguir me mexer ou gritar era agora apenas um detalhe, pois o poder perverso que vinha dele e inundava o ambiente fazia eu perder qualquer esperança de que algo muito ruim não fosse acontecer ali. Desesperada, olhei para o quadro ao meu lado, então percebi que seus olhos, agora muito grandes, me olhavam de uma forma desesperadora.
Não sei quanto tempo permaneci naquela situação, mas senti um pingo de esperança ao ouvir um barulho que vinha da sala. Foi então que a criatura, que agora parecia me segurar com mais força, afastou-se devagar do meu lado, levantou-se e saiu pela porta. Foi quando consegui sentar na cama. Agora o quadro já tinha voltado ao normal, e não pude evitar de olhar em direção à sala para ter certeza de que estava sozinha. Não consegui mais dormir aquela noite.

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