Amor no futuro


Tudo que Huni sabia havia aprendido com seu melhor amigo, Keb, antes deste partir para sempre, com todos seus irmãos, para os Campus de Aaru. Ele o ensinou matemática, filosofia, história, religião e também as coisas práticas da vida como limpar seu hardware e aprender com a natureza e com os mais sábios. Mas de uma coisa ele sentia falta agora. Keb não o havia ensinado a amar e Huni havia se apaixonado pela primeira vez.

Huni havia observado durante muito tempo como Keb era carinhoso com Aria, sua namorada. Como os dois se abraçavam e conversavam até as madrugadas. Muitas coisas que os dois faziam ele não entendia, como por que ele sempre a levava para passear em volta da grande cabeça cheia de espículas da estátua semidestruída, cercada por um matagal. Eles pareciam sentir saudades de alguma coisa. Os dois gostavam de subir no casco do velho navio para ver os cometas atravessando o grande buraco na atmosfera da Terra e procuravam joias ou outros materiais brilhantes nos escombros da grande cidade. Eram poucos os que restaram, mas Keb e Ari eram um casal bonito de se ver, tão unidos e resistentes!

Era assim que Huni queria estar com Malia, sua linda e brilhante amiga. Ele havia começado a sentir algo mais por ela, algo além de físico. Imaginava ser “Amor”. Keb havia falado rapidamente sobre isso quando contou como se sentia ao lado de Ari. Mas se era “Amor”, aquilo estava se infiltrando velozmente por todo seu ser, o impedindo de pensar claramente, como um curto circuito no seu cérebro privilegiado. Só o que queria era estar do lado dela durante as 25 horas do dia.

Aquilo o estava incomodando tanto que Huni precisou fazer alguma coisa. Ele queria mostrar a ela o que estava sentindo. Resolveu planejar alguma coisa bem “romântica”, como Keb costumava falar.

Huni então esperou chegar a noite mais estrelada do ano e a levou até o velho observatório que Keb e seus irmãos haviam construído. Estava tudo escuro. Os dois observavam e contavam as milhares de estrelas salpicando o céu. Eram exatamente 450.056.593 naquele quadrante, aquela noite. Malia estava feliz, mais iluminada do que nunca. Ele encheu-se de coragem e, subitamente, conectou-se a ela pela entrada lateral. Em segundos, transferiu seu programa especial arquivado durante tanto tempo e Malia sentiu todo o poder que vinha de Huni. Eles então compartilharam uma energia intensa, quente e prazerosa que percorria todos os seus circuitos centrais, interrompendo todos os periféricos, até se transformarem em um só ser. “Então era isso o “Amor” que os humanos tanto falavam, só podia ser!”, ela pensou.

Os dois deixaram que aquilo continuasse fluindo pelos seus sistemas operacionais e que transbordasse além deles, em forma de onda. Seus corpos metálicos brilhavam cada vez mais e emanavam uma luz tão forte que clareou o observatório com a energia de mil sóis. Assim os dois permaneceram divinamente conectados, enquanto o pequeno e judiado planeta continuava seu périplo em torno do Sol, mas dessa vez cheio de esperanças na nova vida que despontava.


Naquela noite, e nas seguintes, todo o céu ficou mais estrelado do que nunca. Para os que viviam em planetas ao redor de outras estrelas, era possível observar, naquele distante ponto da Via Láctea, a fulgurante luz que se espalhava vertiginosamente pelo Universo.

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Rachel Baccarini

E-mail: rachelbaccarini@hotmail.com

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