Amor nos tempos de Covid


Rachel Baccarini




Aplicativos de matching , ou sites de paquera, como Tinder e OkCupid são dos mais acessados no mundo. Sua clientela é constituída por milhões de pessoas procurando diversão, amizade, uma noite de sexo ou até um companheiro ou companheira para a vida toda. O critério pessoal de escolha dos pares é geralmente atração física. Após horas, ou até alguns minutos de conversa online, o encontro real pode acontecer; entre pessoas do mesmo sexo, sexo oposto, idades próximas ou muito diferentes, não importa, desde que haja a esperança de “curtir o momento” e fugir da solidão, o grande bicho-papão.

Com a chegada da epidemia, muitos podem supor que esses aplicativos sofreram sério revés e perderam muitos clientes, desde que encontros físicos tornaram-se um caminho certo para a transmissão do vírus que tem levado milhões aos hospitais e ao óbito.

Na verdade, não é bem assim como tem acontecido. Segundo o CEO do Tinder, o coronavírus teve um efeito “dramático” na forma como as pessoas usam o aplicativo. Apesar de ter ocorrido uma queda temporária na receita pela diminuição dos usuários pagantes devido à epidemia, o número de usuários total cresceu. Em 29 de março, ocorreram 3 bilhões de matches no mundo todo, o máximo que o aplicativo já registrou em um único dia. As conversas diárias ao redor do mundo cresceram em 20%.


Encontros por vídeochamada, que antes tinham baixa adesão, passaram a ter maior utilização. E com este recurso, as conversas tornaram-se 25% mais longas que antes da epidemia. Segundo o CEO do Happn, um dos mais usados pelos brasileiros, as novas conexões virtuais passaram a exercer o papel de alívio ao isolamento, à solidão e ao distanciamento social. “Os usuários estão mais propensos a se conhecerem melhor, o que pode significar relacionamentos mais sensíveis e profundos”.


E agora, qual será o futuro dos relacionamentos no mundo pós Covid? Impossível prever com certeza, mas algumas mudanças provocadas pela epidemia vieram para ficar. No que se refere a relacionamentos, a profundidade e relevância pouco dependem do contato físico direto. Este pode até ser uma razão para desentendimentos e abusos, no mundo onde uma minoria é capaz de conviver com o outro sem a intenção de se impor e possuir. Um retorno ao movimento lento de aproximação, às conversas preliminares mais profundas e sinceras na busca do ser humano pelo que ele é de fato, e não o culto à beleza física estereotipada que tem prevalecido nas últimas décadas, pode ser bem-vindo. Uma oportunidade também para nos conhecermos melhor.

Afinal, nossa solidão, que hoje foi exposta pela epidemia do Covid, é tão antiga quanto a raça humana e foi se acentuando furtivamente conforme as cidades foram crescendo, as distancias diminuindo, e as conexões pela web proliferando, porque nunca aprendemos o mais importante: conectar e conviver com a gente mesmo.

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Rachel Baccarini

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