Refugiados


Ana Helena Reis

Refugiados em si mesmos.

Acastelados em seus pensamentos, sentimentos aprisionados, emoções contidas, emparedados.

Como fogo fátuo, imagens do passado faíscam no escuro dos sonhos noturnos.

Em fuga, se aventuram num mergulho livre por seu interior.

A cada descida, águas mais escuras, profundas, perigosas.


Águas que guardam verdades que lá se deixaram a criar algas, se cobrir de musgos.

Como naus naufragadas, encontram nas profundezas um refúgio seguro.

Naus cujas portas enferrujadas abrigam os palcos de dolorosas lembranças.

Lembranças dos perfumes misturados de sedução e desengano.

Lembranças da maciez dos corpos, destroçada pela rigidez das palavras.

Lembranças da névoa da indiferença, envolvendo tudo aquilo que algum dia foi sua razão de viver.


Sobreviventes da mansão dos mortos, procuram um novo abrigo em mares calmos e tépidos.

Buscam águas límpidas que os envolvam e penetrem pelos poros, pelos chacras.

Águas embalsamadas, retiram tudo aquilo que já não tem mais serventia.

Rancores, raivas, remorsos, revoltas, um a um se dissolvendo nessa alquimia.

Banhados pela luz dos plânctons fluorescentes da vida.

Energizados, revigorados, sobrevividos.


Em si mesmos abrigados.

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