Relacionamentos tóxicos e abusivos: o lado obscuro das relações


Karen Minatto

O tema votado para o texto dessa semana foi relacionamentos tóxicos e abusivos.

Quem já experienciou esses tipos de relação, muito provavelmente vai se identificar com o que eu vou escrever aqui.

Quando se fala em relacionamentos tóxicos e abusivos é importante ter a consciência que não estamos falando apenas de relações amorosas. A toxicidade e a abusividade presente nessas relações alcançam também as relações de amizade, profissionais e familiares.

Relações tóxicas e relações abusivas podem envolver o desejo de controle do outro; a violência verbal, física e/ou psicológica; o sofrimento, a necessidade de competição; a dependência; o desrespeito; dentre outros aspectos.

Apesar de parecerem a mesma coisa a duas relações se diferem. Enquanto as relações abusivas se moldam pelas agressões físicas, mentais, e/ou sexuais – aqui temos agressão, dor, humilhação e sofrimento físico e mental -, as relações tóxicas são dimensionadas pelas carências, sejam elas afetivas, racionais, carinhosas, dentre outras. As relações tóxicas afastam a pessoa da felicidade; nesse tipo de relação há o ingrediente da passividade e do distanciamento entre as esferas emocionais de ambas as partes.

Muitas vezes, os sinais de toxicidade e de abuso nas relações são muito sutis, o que dificulta, à primeira vista, a consciência de que a pessoa está dentro desse tipo de relacionamento. Um exemplo clássico são as relações em que há jogos emocionais visando o controle, e as comparações que são feitas entre a pessoa que é vítima e outras pessoas, com o intuito de agredi-la ou diminuí-la, causando um sentimento de inferioridade e rejeição.

Pessoas narcisistas, de uma maneira geral, têm por hábito alimentar esses tipos de relacionamentos, nos quais, normalmente, os inícios são ótimos, mas, com o passar do tempo, tomam outra forma, já que a pessoa passa a se alimentar do denegrir, maltratar e humilhar o outro. Não vou me aprofundar nesse tema, mas acho importante trazer para uma análise pontual de quem vive ou viveu esses tipos de relação, independente da esfera, de modo a avaliar o tipo de parceiro, familiar, amigo, ou colega de trabalho que tem ou teve do lado.

As relações abusivas e tóxicas além de prejudiciais e pesadas, quando terminam, em grande parte das vezes, deixam marcas internas e emocionais em quem as viveu. Essas marcas podem durar anos e, caso a pessoa não busque ajuda para entender o que aconteceu e tomar a consciência de que a culpa não é dela, pode reverberar para uma vida toda. Relações tóxicas, por serem dimensionadas por carências, podem ser reflexo de feridas emocionais adquiridas na infância.

Dentre os sinais presentes em relações tóxicas e abusivas temos a infelicidade persistente, uma vez que a relação para de trazer felicidade e passa a trazer mais raiva, tristeza e ansiedade; queda na autoestima; excesso de ciúmes e controle, já que parceiros abusivos costumam ser controladores e ciumentos em excesso; comunicação tóxica, revestida de hostilidade, sarcasmo e crítica; estresse constante, acompanhado de sentimentos como insegurança e sensação de esgotamento; dentre outros. Em casos mais extremos a pessoa pode sentir a sua privacidade violada e ter constante sensação de medo, em razão da violência psicológica e até mesmo física sofrida.

Nas relações tóxicas parentais podemos ter pais que não escutam os filhos com interesse; que não respeitam os seus limites físicos e emocionais; que os culpam ou os atacam; que os invejam ou que competem com eles; que os desencorajam de ser quem são e os incentivam a ser e a agir como eles, e que usam chantagem emocional.

A grande armadilha nesses tipos de relação é a falsa esperança de que a outra pessoa vá mudar. Não são raros os casos em que as pessoas permanecem no relacionamento esperando que o companheiro, que o pai, que o amigo, que o colega de trabalho mude. Mudança essa que acaba não ocorrendo e que perpetua o cenário de dor e de sofrimento.

Uma das chaves para evitar esses tipos de relação ou sair delas é o desenvolvimento do autoamor e do amor-próprio. Pessoas sem a percepção de seu valor ou do que realmente merecem acabam se acostumando a serem tratadas de qualquer forma, e o pior: muitas vezes compreendem ser normal ou merecedoras desses tipos de tratamento.

Assim como nos acostumamos com as coisas boas, nosso cérebro também se acostuma com as coisas ruins. Dependendo de como foi a nossa criação, das crenças que carregamos e da percepção de valor e de autoamor que desenvolvemos, ter um parceiro agressivo, por exemplo, pode ser entendido como sinônimo de amor, por mais absurdo que pareça.

Crianças que tiveram pais que brigavam muito, por exemplo, podem associar quando adultos, que um relacionamento saudável é baseado em brigas, o que acaba por sabotar as suas relações, já que evitam se relacionar de forma saudável e têm por hábito se envolver com pessoas agressivas.

Uma pessoa com bases sólidas de autoamor, de criação, com o emocional saudável, que não possua crenças que a limite e a controle, e que tenha equilíbrio emocional, no primeiro sinal de qualquer tipo de abuso, toxicidade, ou maus-tratos pula fora desse tipo de relação ou se afasta da pessoa que tem esse tipo de conduta.

Acredito que o trabalho focado no autorrespeito e no autoamor seja o passo primordial para termos relacionamentos saudáveis e satisfatórios. Outro ponto a se considerar seria observar a relação e ponderar se ela está fazendo mais mal do que bem. Em caso positivo, uma solução seria buscar ajuda psicológica.

Ferramentas complementares, como a Constelação Familiar, podem ajudar a assimilar melhor as questões de crenças pessoais adquiridas na infância, ajudando, muitas vezes, a pessoa a entender a origem da compreensão errada que ela possa ter sobre determinada situação ou aspecto, o que, na fase adulta, pode resultar em um sentimento ou em uma ferida latente de desvalorização, abandono, rejeição, carência, dentre outras. Feridas essas que acabam refletindo nos tipos de relações que consideramos saudáveis ou não, e que aceitamos e entendemos como justas ou não.

A base de uma relação saudável é estarmos sadios e de bem com a gente mesmo. Pessoas que precisam ferir os outros para se sentirem bem ou para manter uma posição de poder estão doentes e, em razão disso, não conseguem compreender o real sentido de um relacionamento benéfico e saudável, que envolve a troca, a parceria, o incentivo, o diálogo, a admiração, o apoio, o respeito, a consideração, e o amor.


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Karen Minatto

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